7 de junho de 2009

Surge uma esperança! x Surge uma esperança?


Num desses dias de frio, fui pegar um cobertor grosso antes de dormir.
Inevitavelmente, pensei em agradecer pelo privilégio que tinha de deitar-me aconchegante,
quentinha, envolta no abraço do meu manto.
Mas algo me impediu o pensamento. Imediatamente,na minha mente surgiu a imagem de Pedro Bala. O dito cujo é personagem da obra de Jorge Amado, Capitães da Areia.

Meu incômodo tinha duas motivações:
A leitura de Capitães da Areia traduzia o que "obrigatório" tem significado para a grande maioria: dever no qual você não tira proveito, só faz pelo caráter compulsório. Nada mais estranho do que povoar meus pensamentos aquilo que até então eu repudiava. Convencia-me que, afinal de contas, o livro tinha me conquistado. Seus meninos eram agora meus meninos. Os mitológicos garotos da Bahia, meio-crianças, meio-adultos, eram meus garotos, aqueles que lembramos antes de dormir.
O meu segundo incômodo era de não conseguir agradecer por mim. Não, seria quase um desaforo para meus amigos. Como poderia agradecer quando eu me beneficio muda através do mesmo sistema que os oprime? Eu vivo todos os dias a minha rotina, uma vez que, independente do que aconteça, eu terei um cobertor me esperando no final do dia. E esse conforto vem a mim de forma natural, obedece a todas as leis sociais, é irrepreensível diante da sociedade.

Se um dos meus amigos roubar um cobertor em nome da sua sobrevivência, que resposta daremos a isso? Não há resposta.Eis o paradoxo fundamental da nossa sociedade.

Se não posso agradecer agora, espero um dia poder agradecer por essa leitura que tornou-se obrigatória não só para mim, mas para milhares de brasileirinhos que querem fazer ensino superior, para todo aquele que pretende entrar numa universidade como a USP ou a UNICAMP.
Sonhe por um instante: Conscientizar toda a futura geração intelectual e evidentemente agente na composição do nosso sistema social pode gerar frutos!

Surge uma esperança. A história de todos os pedros balas está sendo contada.
Surge uma esperança
(Não cabe a mim escolher a pontuação do último período: uma exclamação ou (ainda) uma interrogação?)

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MUITO OBRIGADA