10 de maio de 2009

Me engana que eu gosto...



Acordo.Coloco uma roupa bem besta, brega, daquelas que a gente usa quando não quer fazer nada.Vou rumo ao banheiro, escovar meus dentes.
SUSTO: O que é isso?

Quem nunca acordou e se deu conta da escassez de elementos para se apreciar em si mesmo (eufemismo para: entendeu que era feio) que atire a primeira pedra.
E não adianta tentar amenizar as minhas duras palavras.

De manhã a gente tem mesmo aquela cara mais amassada, tem dias que a gente não está se cuidando, semanas que a preguiça nos impede de ir a academia, não nos permite ter ânimo sequer para pegar um "pratinho" para comer o bolo... Melhor come-lo inteiro, usar a bandeja mesmo para não sujar o prato...

Muletas e justificativas existem.E desde que eu nasci tenho as ouvido... Como se ninguém tivesse coragem de admitir a própria feiúra, mesmo sendo tão fácil apontá-la nos outros.
E aquele que ousa dizer em alto e bom tom "sou feio", atrai automaticamente a turma do "deixa disso".

Quantas vezes eu já não me peguei refletindo sobre esses tais que julgamos desprovidos de beleza, como seria a relação deles com o espelho. E quando o mundo finalmente silencia, na intimidade criada entre ser e imagem, o que vem a mente?

Cessando minha reflexão distante, vivenciei na pele a situação.
Por que nós temos medo de perder a beleza? Por que foi tão penoso erguer meus olhos e encarar meu reflexo desde então?
Por que essa carcaça que nos cobre as entranhas ganhou uma avaliação extra, que excede o universo meramente fisiológico, e pode então ser chamada BONITA?

Gaston Leroux, e mais ainda Andrew Lloyd Webber, respectivamente, autor do livro e adaptador do musical de FANTÁSMA DA ÓPERA, trabalharam bem essa idéia: Eric, o gênio da musica, se torna obscuro, isolado e infeliz por seu rosto deformado. Torna-se um fantásma, excluído da sociedade e oprimido pelos espelhos que decoravam seu esconderijo.

E numa "releitura" de um texto de Alberto Caieiro, heterônimo de Pessoa, consigo expressar de fato esse incômodo:

Procuro despir-me do que [a mim] apreenderam
Procuro esquecer-me dos modos que me ensinaram
E raspar a tinta com que pintaram meus sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desenbrulhar-me e ser eu, não Manuela Malachias,
Mas uma vida humana que a Natureza produziu.

Quem dera poder tirar todas as marcas do tempo, abandonar o exterior, desprender-me desse corpo, dessa "Manuela" como pessoa pública, física, mortal e então ser eu, SÓ ser esse eu que vive aqui dentro, ser essa vida humana.

Como isso é impossível, a alternativa nesse caso é agradecer:

1) Tão perfeita foi pensada a criação do ser humano, que aquilo útil para embalar ossos, músculos, orgãos, essa estrutura que nos faz viver, até esse exterior foi feito de modo lindo.
Poderia ser algo meramente funcional, mas não, vai além, mexe com a gente, interage com os nossos sentimentos, caracteriza e agrega valores àquela idéia de "quem eu sou".
A "carcaça" consegue dar liga a "vida humana" e o corpo que a sustenta, cria o elo que nos permite reconhecermo-nos nesse físico.

2) Agradeço por último à maquiagem que me salvou ontem! Já não aguentava ver meu rosto
deformado e graças a esse artifício consegui ficar mais leve... ehehe Maquiagem resume-se em "me engana que eu gosto"! Como eu gosto... eheh Confira os resultados:
(foto da esquerda: eu frustrada com a minha alergia, espinhas, cabelo zuado, etc, etc; foto da direita: mais feliz, com bastante maquiagem...)